Joana Gomes
Joana Gomes, 1986 Lisboa.
Artista, trabalha no Atelier Contencioso no Largo de Santo António da Sé em Lisboa.
Realizou a Licenciatura e o Mestrado em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Trabalhou em museus e galerias como assistente de produção e guia de museu, nomeadamente, na Galeria Baginski e no MUDE. Estagiou no Carpe Diem – Arte e Pesquisa. Actualmente, coordena o Serviço Educativo do Museu da Carris. Paralelamente, dá formação de Desenho, Pintura e Vestuário na Odd School.
Participou em publicações e ciclos de conferências, mencione-se a mais recente publicação Investigação nas Artes - Oscilação dos métodos, cord. Fernando Rosa Dias e José Quaresma, Universitas Olisiponensis e FCT.
Co-fundadora do Colectivo Tempos de Vista projecto de programação cultural site specific, activo desde 2008. Expõe nacional e internacionalmente desde 2009.
Exposições [Selecção]: 2019 | Double Poetics (Individual), Galeria Belo-Galsterer, Curadoria Inês Valle, Lisboa; OFF-SITE, Co-produção Underdogs e Atelier Contencioso, Palácio Príncipe Real, Lisboa; Mano-a-Mano, curadoria de Jorge Catarino, Galeria Águas-Livres 8, Lisboa; 2018 | Early Summer | Casa da Cultura da Comporta | Comporta; Panorama | Le Consulat | Curadoria de Adelaide Ginga | Lisboa;| The Absence of Awareness: Fluor, Concrete, Lava, Wozen, Lisboa; 2017 | Bendito entre as mulheres, Curadoria Sandro Resende, Pavilhão 31, Lisboa; 2016 | Joana Gomes-Desafogar, Palácio Chiado, Lisboa; MOSTRA’16, Edifício Vasco da Gama, Lisboa e Edifício1305 na Rua de Santa Catarina, Porto; Exposição Permanente, Colecção Particular, Rio Maravilha, Lisboa; Intervalos da Imagem, Teatro-Estúdio António Assunção, Almada; 2015 | Tempos de Vista - Circuitos de Repetição, Fábrica da Viarco e Oliva Criative Factory, São João da Madeira; D’artasas, Fundação EDP, Museu da Electricidade, Lisboa; 2014 |Art Stabs Power, que se vayan todos!, Curadoria Inês Valle, Bermondsey Project, Londres; Tempos de Vista - Estado de Sítio, Plataforma Revólver; 2013 | 7ªBienal de São Tomé e Princípe, Fundação Carlos Delfim Neves, São Tomé; 2012 | Tempos de Vista – Zona Desactivada, Museu da Carris, Lisboa; Spectrum – Novos Funcionamentos Artísticos da Imagem, Curadoria Fernando Rosa Dias, Casa-Museu Medeiros e Almeida, Lisboa; 2011 | Tempos de Vista, O Espaço em Paralaxe, Observatório Astronómico de Lisboa; 2010 | Casa Grabada, Sala Aljibe, Granada; InShadow – Festival Internacional, Teatro São Luiz, Curadoria Pedro Senna Nunes, Lisboa; Jetklass Lisboa, Curadoria de Madaglena Jetlova, Fábrica do Braço de Prata, Lisboa; Goldener Kentaur, Casa de Artistas de Munique, Munique.
Já recebeu bolsas e apoios de diversas fundações e instituições, nomeadamente, da Fundação Calouste Gulbenkian 2011|2012|2013|2015.
Intervalo
Distância que, no tempo ou no espaço, medeia entre duas coisas. Intermitência. Entreacto.
A história do cinema, revisitada e dissecada por Deleuze, divide-se na passagem da imagem-movimento para a imagem-tempo. Ranciére virá a descrever ainda os intervalos do cinema, por conseguinte, da imagem, da acção que produz e que contém e do impacto que a mensagem cinematográfica cria no espectador. Aqui situa-se o início do meu questionamento sobre a imagem-tempo ou, ainda, os “intervalos da imagem” na pintura e no vídeo através da construção ou esvaziamento de sentido que este tipo de imagem/processo pode aferir a uma narrativa ou acção. Tomam-se como premissa e influência directa as Pillow Shots de Yasujiro Ozu.
Ozu substituirá/intervalará a imagem-acção por imagens puramente ópticas e sonoras - opsignos e sonsignos. “Os espaços de Ozu são elevados ao estado de espaços quaisquer (…)” – aqui recordando as palavras de Proust a respeito de Chardin e a beleza do estaticismo do espaço quotidiano – “(…) ou por conexão, ou por vacuidade. Os falsos raccords de olhar, de direcção até de posição dos objectos são constantes, sistemáticos.” Sejam vasos no alpendre, seja uma vista de montanha enquadrada numa janela ou uma corda de roupa branca, até mesmo um saqué a arrefecer na mesa - “Estes objectos não se envolvem necessariamente no vazio, mas podem deixar viver e falar personagens num certo vapor”. As imagens-intervalo de Ozu interrompem “a sucessão de estados cambiantes”, podem acrescentar sentido ou simplesmente cortar a cena dando-lhe e nos dando tempo para respirar, para assimilar, para que se passe ao capítulo seguinte deixando ecoar ou sugando o “diálogo” anterior. Esta “ferramenta” do realizador prende-se ainda com a ideologia de que a natureza por si existe harmoniosa e a vida se equilibra ciclicamente, porém, o homem complica-a e destabiliza-a. As Pillow Shots de Ozu podem também ser lidas como a fluidez serena da natureza que quebra e reorganiza o caos humano.
O trabalho que desenvolvo de momento pretende explorar esta ideia de intervalo-da-imagem
O Tempo, a Cor, a Forma
As minhas pinturas apresentam-se em duplas, díptico ou correlacionadas no esquema cromático e forma/dimensão. São duas faces de uma moeda. Uma das conotações da cor branca na arte relaciona-se simbólica e formalmente com o início. A tela ou o papel branco. Início de grande maioria das obras de arte. Em muitos casos o branco surge como um organizador compositivo. Apaga a mancha, rasura o erro, é uma linha/traz o orientador. Também pauta o ritmo quando se tratam das linhas verticais. Revela e oculta a narrativa. A narrativa que é o historial do processo, a sequência de camadas e não uma acção com história. Assim aconteceu com o tempo a necessidade do linho em cor crua, a base é o princípio não podem ser o branco pois este é a última instância do processo.
Joana Gomes