Analice Campos
Mestre em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, desde 2008 que trabalha com regularidade no seu atelier em Matosinhos, onde também lecciona Pintura e Desenho.
Em 2016, foi-lhe atribuído o Prémio de Mérito Viana de Lima pela Câmara de Esposende enquanto melhor aluna do Mestrado em Pintura 2014/15 e o Prémio Aquisição Penha D’Águia - Concurso de Ideias de Intervenção Artística, com vista à execução de um painel de azulejos no Funchal. Em 2010, realiza a performance Barriga, no Serralves em Festa.
Exerceu funções como produtora de filmes, após a licenciatura em Comunicação Social, na Jorge Neves Produção Audiovisual, Lda. (Porto) e na Douro - Centro de Produções Artísticas, Lda. (Porto), actualmente extintas.
Exposições individuais seleccionadas:
2016
Paisagens Forjadas, Galeria Cozinha da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Portugal
2014
Passagem, Espaço Q - Quadrasoltas, Porto, Portugal
2013
Superfícies, Jorge Marinho - Espaço d’Artes, Vila Real, Portugal
2010
Barriga (performance), Serralves em Festa!, Fundação de Serralves, Porto, Portugal
Exposições colectivas seleccionadas:
2016
Exposição Concurso de Ideias de Intervenção Artística - 172º Aniversário Penha, D’Águia, Funchal, Paços do Concelho, Madeira - PT
2015
5 Anos, Espaço Q - Quadrasoltas, Porto, PT; Mostra para Leilão do Projeto de Arte, AMI, Silo Espaço Cultural, Matosinhos, PT; I Bienal de Arte de Gaia, PT; Cruzamentos Paralelos, Silo Espaço Cultural, Matosinhos, PT; 30 Anos 30 Artistas - 7ª Edição Arte Urbana nos Mupis, Porto, PT
2014
Êxodo para o Espaço Aberto, Silo Espaço Cultural, Matosinhos, PT
2013
Em Suma, Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, PT
2012
Exposição Coletiva da AVEPOD, Porto, PT
2011
In Hoc Signo - Oporto Wine, Fundação da Juventude, Porto, PT; Exposição de Cerâmica dos Alunos da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Galeria Leões Porto, PT; Exposição Final das Licenciaturas, Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, PT; We are ready for our close-up, Exposição de Jovens Artistas Plásticos da FBAUP e Designers da ESAD, Porto, PT; Projecções 2011, O Desenho da FBAUP, Lugar do Desenho/Fundação Júlio Resende, Porto, PT; Salão da Primevera, Galeria de Arte do Casino do Estoril, PT; 4 + 3, Banco Santander Totta, Porto, PT
O meu projeto equaciona o lugar da paisagem, um dos antigos géneros da História da Pintura, no contexto da produção artística contemporânea, nomeadamente no âmbito da Pintura e do Desenho. A recorrência à História da Pintura, por intermédio da paisagem, não propriamente como reactivação de um género ou como um posicionamento revivalista, serve apenas como ponto de partida para uma estratégia que pretende explorar as possibilidades de criação de imagens como simulacros da tradicional pintura de paisagem.
Desenvolvem-se, assim, pinturas/desenhos não através do contacto directo com a natureza, nem sequer através da fotografia, mas a partir de imagens da memória. O resultado são pinturas/desenhos que apresentam um carácter fragmentado e sem continuidade interna, visto que são construídas por uma espécie de corte e colagem de imagens retiradas da memória; estas surgem como flashes dispersos e são agregados na tela.
A imagem de paisagem surge através da criação e sobreposição de camadas, ora de pintura, ora de desenho, que não têm conexão entre si, numa lógica paralela à acumulação de layers dos programas de edição de imagens digitais. Os antigos parâmetros da tradicional pintura de paisagem, como a criação de ilusionismo pelo respeito à perspectiva ou à existência dos efeitos de luz e sombra, não são valorizados. Por outro lado, ao contrário do que se passa com o processo convencional da pintura, aqui, esta precede o desenho e ambas as técnicas convivem no mesmo espaço. A associação de materiais, a princípio específicos de cada um destes meios, dá origem a um confronto dinâmico entre dois níveis que não se anulam, mas, no conjunto, oferecem uma imagem que funciona como um todo, embora sempre duplo, dúbio e ambíguo.
O «acaso» não é desencorajado no processo de realização das pinturas/desenhos, embora não comande o processo. Como estas pseudo-paisagens são criadas a partir de imagens da memória, há também acções ou gestos que não são ensaiados ou previstos antes de acontecerem na tela. Por vezes, tais acções não premeditadas são propositadamente accionadas como meio de introduzir de forma abrupta o inesperado, e estes momentos coincidem com uma mudança radical de direcção que força ainda mais a fragmentação da imagem proposta e desconcertam a estabilidade das formas. A pintura não pressupõe a representação de uma impressão sobre a paisagem real, mas implica um revisitar da paisagem como dado histórico e reivindica o seu reposicionamento como construção, de modo que já não é a imagem da representação, mas a representação da imagem de si mesma. A paisagem na pintura passa a ser um universo indirecto.
Analice Campos